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Episódio 2: Homicídio no Senado

  • podcrimessa
  • 2 de jan. de 2022
  • 4 min de leitura


Nascido em 1° de fevereiro de 1924 em Manaus, Amazonas, Kairala José Kairala era filho de José Kairala e Carolina Moussuly Kairala. Não há muita informação sobre sua infância e juventude mas sabe-se que foi comerciante na vida adulta - período em que se estabeleceu no Acre e foi eleito prefeito de Brasiléia - AC. Filiado ao partido Social Democrático (PSD), Kairala, aos 38 anos, foi eleito suplente do senador José Guiomard em 1962.

  • Senador suplente → quando há eleição de senador, cada candidato se cadastra junto com dois suplentes que podem assumir o cargo caso o senador titular precise se ausentar. Exemplo: caso o senador eleito assuma o cargo de ministro, um dos seus suplentes assumirá sua cadeira no senado. O suplente, ao assumir o cargo, passa a receber tudo o que é comum a um senador → salário alto (em torno de R$ 33.000), auxílio moradia.

Em 6 de julho de 1963, o senador José Guiomard pediu licença e, então, José Kairala assumiu como senador suplente. Alguns meses depois, em 4 de dezembro do mesmo ano, Kairala se preparou para sua última sessão no senado. Era uma quarta feira e no sábado o senado titular, Guiomard, voltaria de sua licença e assumiria novamente a cadeira de senador. Como era o último dia de Kairala, ele levou a família toda pra prestigiar esse momento: mãe, esposa e filhos estavam dentro da sala para acompanhar o último dia de trabalho do então senador. Provavelmente o sentimento dos familiares era de orgulho e planejavam comemorar assim que a sessão acabasse. Mas o destino foi cruel com essa família e o dia acabou no hospital com a notícia do falecimento de Kairala José Kairala. O senador foi vítima de um crime dentro do senado brasileiro: foi atingido por dois disparos e morreu horas depois no hospital.


Mas por quê? Kairala tinha antecedentes criminais? Inimigos políticos? Estava jurado de morte? Quem matou o senador? De onde vieram os tiros?

E a verdade torna o fato ainda mais triste: Kairala se tornou vítima desse crime por acaso, o alvo, na verdade, era Silvestre Péricles, senador por Alagoas. O assassino foi Arnon Afonso de Farias Mello. Reconhece esse sobrenome? Aron era jornalista, advogado, empresário, também senador por Alagoas e pai de Fernando Collor de Mello, ex-presidente do Brasil.







Para entender direitinho como as coisas chegaram nesse ponto e o pai do Collor se tornou assassino em flagrante, vamos ter que voltar um pouquinho na cronologia.

Arnon Mello e Silvestre Péricles eram rivais políticos há um bom tempo. Especificamente desde 1950 quando disputaram o governo do Alagoas e Arnon derrotou o candidato de Péricles. Ambas as famílias eram poderosas e tinham notoriedade política no estado então travaram um disputa política que causava bastante conflito. Principalmente porque a ascenção dos Mellos estava rápida: os Péricles eram mais antigos na política e estavam sendo “tapeados” pela família Mello. Em 1963, ambos eram senadores e a rixa se intensificou. Passaram a proferir ofensas públicas um ao outros e se provocavam o tempo todo. Arnon, apesar de senador eleito, não tinha muita preocupação em bater cartão no Senado: ele não era muito presente nas sessões. No entanto, quando desafiado por Silvestre a comparecer na sessão federal do dia 04 de dezembro de 1963, a presença de Arnon estava mais do que confirmada.


Mello e Péricles compareceram à sessão armados. Arnon subiu ao palanque e iniciou um discurso direcionado à Silvestre: “Senhor presidente, com a permissão de Vossa Excelência, falarei de frente para o senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que me ameaçou de morte”. E esse foi só o início do caos que teve por conseguinte um crime. Enquanto Mello discursava, Silvestre levantou e foi andando em direção à Arnon, chingando-o.





Arnon percebeu Péricles fazendo um movimento para sacar sua arma e fez o mesmo mas não só isso: Arnon não teve pudor em efetuar disparos. Silvestre, apesar de estar na casa dos 60 anos foi rápido em se jogar no chão e se salvou: nenhum disparo o atingiu. Ele ficou rastejando entre as cadeiras do senado com a arma em punho e foi desarmado por outro senador, João Agripino.





Mas quem estava na primeira fileira, tentava apaziguar a situação e foi ferido por dois disparos? Kairala José Kailara.





Ainda mais revoltante é o que sucedeu: embora o crime tenha sido em flagrante com muitas testumunhas, a realidade dos fatos é que ninguém foi efetivamente punido. Sim, é verdade que ambos os senadores, Arnon e Silvestre foram encaminhados à delegacia e depuseram. Arnon inclusive chegou a ser preso - o curioso é que ele foi preso e continuou em posse de sua arma (um Smith Wesson 38, popularmente chamado três-oitão, de cano longo e cabo de madrepérola). Mas em questao de horas já estava solto e antes da metade de 1964, Aron e Péricles foram inocentados pelo Tribunal do Júri de Brasília.


Ná época, Arnon era amigo e sócio de Roberto Marinho e uma matéria do jornal O Globo mostra que essa amizade não tinha escrúpulos. A publicação diz o seguinte: “A democracia, apesar de ser o melhor dos regimes políticos, dá margem, quando o eleitorado se deixa enganar ou não é bastante esclarecido, a que o povo de um só estado – como é o caso – coloque na mesma casa legislativa um primário violento, como o senhor Silvestre Péricles, e um intelectual, como o senhor Arnon de Mello, reunindo-os no mesmo triste episódio, embora sejam eles tão diferentes pelo temperamento, pela cultura e pela educação”. É nítido o ataque a Péricles e a defesa ao assassino, Mello.


A viúva de Kairala, que estava grávida na ocasião, ainda tentou solicitar judicialmente que o assassino custeasse as despesas estudantis dos filhos mas não teve sucesso nisso. Inclusive, há registros que dizem que ela acabou tendo que trabalhar como lavadeira e faxineira para sustentar a família.


Arnon faleceu em 1983, 20 anos depois, aos 72 anos de idade. Já Silvestre morreu aos 76 anos em 1972.

Em 2011 uma escola em Brasileia, Acre, reinaugurou uma escola com o nome Kairala José Kairala em homenagem ao senador vítima de um crime tão baixo fruto de uma briga em duas pessoas não civilizadas.

O filho do Collor carrega o mesmo nome do avô: Arnon e tentou carreira política mas aparentemente não obteve sucesso.

 
 
 

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